Recursos minerais em Portugal: potencialidades e vulnerabilidades
Apesar das suas pequenas dimensões, Portugal possui ampla riqueza de recursos minerais. A exploração mineira em Portugal remonta por isso aos tempos pré-Romanos, com registos de actividade extractiva por parte de Fenícios e Cartagineses, sem dúvida impulsionada pela riqueza da faixa piritosa ibérica. Também os Romanos possuíram na Lusitânia diversas minas, encontrando-se entre as mais famosas as de Valongo, na Serra da Santa Justa e Aljustrel, localidade ainda rica em pirites.
Já no século XX, Portugal possuía no início dos anos 90 um parque mineiro moderno, constituído por diversos empreendimentos recentes, mas as normas Europeias de acesso aos recursos minerais e a generalizada má imagem da exploração mineira levaram a um decréscimo da actividade extractiva, gerando não só um subaproveitamento dos recursos, como chegando-se a contabilizar perto de 200 minas abandonadas e a necessitarem de intervenção preventiva para não se tornarem riscos ambientais e para as populações.
A segunda década do Séc. XXI parece no entanto marcar um ponto de viragem, com o crescimento dos pedidos de extracção de minério chegados à Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG), com o ouro em grande destaque: as minas de Jales/Gralheira encontram-se em fase de prospecção para reabrirem após 20 de inactividade, e na Boa-Fé a exploração deve começar ainda em 2015.
Estima-se que até 2025, a extracção de recursos minerais em Portugal atinja os 2,5 mil milhões de Euros, cerca de 1% do PIB. Com a Europa no estatuto de importadora e a América Latina a dominar o mercado mundial, a mineralogia diversificada de Portugal é um investimento apetecível com amplas chances de sucesso, ainda que com sérias deficiências. Como dava conta há apenas dois dias o director-geral das minas de Aljustrel em edição do Correio do Alentejo, Portugal não possui fundições para transformar concentrado de cobre em cobre final. Como resultado, é primeiro necessário exportar o concentrado para voltarmos a importar o produto final, diluindo-se aí uma boa parte do lucro potencial.
Hoje em dia, no entanto, Portugal está na linha da frente dos países que olham para o mar à procura de novos recursos minerais.
Recursos minerais dos oceanos
Foi já entre 1872-1876, durante a expedição científica do HMS Challenger, que se determinou a ocorrência de nódulos polimetálicos (ou nódulos de manganês) na maioria dos oceanos terrestres, após a sua descoberta em 1868 no Mar de Kara. Tratam-se de nódulos de camadas concêntricas de ferro e óxidos de manganésio em torno de um núcleo e que podem ter entre 1 e 10cm.
Mais promissoras são as fontes hidrotermais, nas quais a Zona Económica Exclusiva (ZEE) Portuguesa é rica. Estudos prolongados das fumarolas negras permitiram concluir que este tipo de fontes formam grandes depósitos de sulfetos que contêm ouro, cobre, manganésio, zinco, e outros metais.
Ora Portugal tem a seu cargo a 3ª maior ZEE da Europa, e as recentes explorações da Plataforma Continental deram-nos a percepção de que para lá do pescado, os maiores recursos minerais nacionais estão ali mesmo no fundo do mar.
Manuel Pinto e Abreu, Secretário de Estado do Mar, declarava já em 2012 que as extracções de níquel, cobre e cobalto no fundo do mar podem atingir os 60 mil milhões de Euros ao ano, embora este número seja amplamente optimista. Estimativas mais conservadoras colocariam a exploração dos recursos minerais oceânicos, que incluem ainda ferro, prata, ouro e metais raros, além de gás natural e hidrocarbonetos, nos 20 mil milhões de Euros, catapultando o mar de 2-3% do PIB para 6-8% do PIB.
Como se minera no oceano
Desde os anos 60 que se conhecem as potencialidades dos fundos oceânicos em recursos minerais, mas a sua exploração sempre foi demasiado custosa. Duas questões vieram mudar esta postura: por um lado, o avanço tecnológico permite novos métodos de extracção de minério do fundo dos oceanos. Por outro, o consumo tecnológico da sociedade impõe maior procura por metais e os seus preços aumentam em consequência, tornando a exploração oceânica mais rentável.
Projecto pioneiro na exploração dos recursos minerais do oceano é o Solwara 1, da Canadiana Nautilus Minerals. Entretanto cancelado devido à falta de pagamentos prometidos pelo governo da Papua Nova-Guiné, o projecto pode ser encarado como exemplificativo de como se processarão as actividades mineiras no fundo dos oceanos no futuro.
Numa fase inicial, recorrem-se a ROV (Remotely Operated Vehicles), veículos comandados à distância, com sondas capazes de recolher amostras do solo marítimo.
O sistema de exploração industrial em si mesmo é constituído por três conjuntos distintos. Em primeiro lugar existem as chamadas SPT (Seafloor Production Tools), efectivamente duas escavadoras comandadas à distância que desagregam a rocha, deixando as lamas depositadas ao longo dos seus rastos, para serem colectadas por uma terceira máquina robótica, que aspira a lama e a reencaminha para a segunda componente da extracção, um sistema de elevação e transporte para a superfície.
Este sistema constituído por bombas e tubos rígidos está então conectado ao Navio de Apoio à Produção (Production Support Vessel-SPV) que procede à remoção da água das lamas e despeja os sólidos numa barcaça encostada ao seu flanco. A água extraída é bombeada de novo para o fundo do mar, fornecendo energia hidráulica às bombas e minimizando o impacto ambiental da mistura das águas frias profundas nas águas mais quentes da superfície.
Actualmente, 9 em cada 10 diamantes vendidos no mundo são obtidos através da exploração dos fundos oceânicos ao longo da costa da Namíbia. Mas isto é apenas o começo, e a corrida aos recursos minerais dos fundos marítimos pode estar prestes a começar.
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