A extracção de gás natural em Portugal tem vindo a ganhar destaque como uma das principais actividades energéticas do país. No entanto, esta prática levanta várias questões ambientais que precisam ser cuidadosamente analisadas e geridas. Desde as emissões de gases com efeito de estufa até à contaminação dos recursos hídricos, passando pela perda de biodiversidade e os riscos associados à fraturação hidráulica, os impactos ambientais são diversos e significativos. Este artigo explora esses impactos e discute as medidas que podem ser implementadas para mitigá-los.
Principais Conclusões
- A extracção de gás natural contribui significativamente para as emissões de metano e dióxido de carbono, exacerbando as alterações climáticas.
- A contaminação de recursos hídricos, tanto subterrâneos como superficiais, é um risco ambiental crítico associado a esta actividade.
- A perda de biodiversidade e a alteração do uso do solo são consequências directas da destruição de habitats naturais.
- A fraturação hidráulica, uma técnica comum na extracção de gás natural, apresenta riscos ambientais específicos que necessitam de uma gestão rigorosa.
- O armazenamento subterrâneo de gás natural em Portugal, embora necessário, também acarreta impactos ambientais importantes que devem ser monitorizados e mitigados.
Emissões de Gases com Efeito de Estufa na Extracção de Gás Natural
Metano e Dióxido de Carbono: Principais Contribuintes
As emissões de gases com efeito de estufa (GEE) na extracção de gás natural são predominantemente compostas por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). O metano é particularmente preocupante devido ao seu potencial de aquecimento global, que é 25 vezes superior ao do CO2 num horizonte de 100 anos. As emissões de CO2 resultam principalmente da combustão durante o processo de extracção e transporte.
Impacto nas Alterações Climáticas
A extracção de gás natural contribui significativamente para as alterações climáticas. As emissões fugitivas de metano, que ocorrem durante a produção e transporte, exacerbam o efeito de estufa. Estudos indicam que a taxa de vazamento de metano pode ser superior a 2%, o que coloca em questão a premissa de que o gás natural é uma alternativa mais limpa aos combustíveis fósseis tradicionais.
Medidas de Mitigação
Para mitigar as emissões de GEE na extracção de gás natural, várias estratégias podem ser implementadas:
- Monitorização contínua das instalações para detecção e reparação de fugas de metano.
- Utilização de tecnologias avançadas para captura e armazenamento de carbono (CCS).
- Implementação de práticas operacionais mais eficientes e menos emissoras.
A adopção de medidas de mitigação é crucial para reduzir o impacto ambiental da extracção de gás natural e alinhar-se com os objetivos climáticos globais.
Contaminação de Recursos Hídricos
Afectação de Águas Subterrâneas
A extracção de gás natural pode levar à contaminação das águas subterrâneas devido à infiltração de químicos utilizados no processo de fraturação hidráulica. Esta contaminação pode afetar a qualidade da água potável e dos aquíferos, essenciais para o abastecimento público e agrícola.
Impacto nas Águas Superficiais
As águas superficiais, como rios e lagos, também podem ser impactadas pela extracção de gás natural. A rejeição de salmoura e outros resíduos líquidos pode alterar a composição química da água, afetando a fauna e flora aquática. Além disso, o ruído gerado durante a construção das infraestruturas pode perturbar os ecossistemas locais.
Estratégias de Prevenção
Para mitigar os impactos na contaminação dos recursos hídricos, é essencial implementar estratégias de prevenção, tais como:
- Monitorização contínua da qualidade da água.
- Utilização de barreiras físicas para evitar a infiltração de contaminantes.
- Tratamento adequado dos resíduos líquidos antes da sua rejeição.
A protecção dos recursos hídricos é crucial para garantir a sustentabilidade ambiental e a saúde pública. A implementação de medidas rigorosas de monitorização e prevenção pode minimizar os riscos associados à extracção de gás natural.
Perda de Biodiversidade e Alteração do Uso do Solo
A extracção de gás natural frequentemente leva à destruição de habitats naturais, resultando na perda de biodiversidade. A construção de infraestruturas e a operação de equipamentos pesados perturbam o solo e a vegetação, causando danos irreversíveis aos ecossistemas locais.
A fauna e flora locais são diretamente afetadas pela alteração do uso do solo. Espécies endémicas podem ser deslocadas ou extintas devido à fragmentação dos habitats. Além disso, a poluição sonora e a contaminação do solo e da água podem ter efeitos adversos na saúde e reprodução das espécies.
A reabilitação de áreas degradadas é essencial para mitigar os impactos ambientais da extracção de gás natural. Estratégias de reabilitação incluem a revegetação com espécies nativas, a restauração de cursos de água e a monitorização contínua da qualidade do solo e da água. Estas medidas são cruciais para recuperar a biodiversidade e garantir a sustentabilidade dos ecossistemas afetados.
A implementação de práticas de reabilitação eficazes pode ajudar a restaurar a funcionalidade ecológica das áreas impactadas, promovendo a resiliência dos ecossistemas e a conservação da biodiversidade.
Riscos Associados à Fraturação Hidráulica
A fraturação hidráulica, ou fracking, é um método utilizado para extrair gás natural de formações rochosas subterrâneas. Este processo envolve a injeção de grandes volumes de água, areia e produtos químicos a alta pressão para criar fraturas nas rochas e permitir a libertação dos hidrocarbonetos. Cada poço pode utilizar até 27 milhões de litros de água por sessão de fraturação, e um poço pode ser fraturado até 18 vezes. Este uso intensivo de água, juntamente com a contaminação por reagentes químicos, levanta sérias preocupações ambientais.
Embora a fraturação hidráulica seja mais comum em países como os Estados Unidos, onde foram reportados casos de contaminação de água e aumento de doenças oncológicas, Portugal também tem explorado esta técnica. Estudos locais são essenciais para avaliar os impactos específicos no contexto português, considerando a geologia e os recursos hídricos locais.
A contaminação de aquíferos e a utilização excessiva de água são problemas críticos associados à fraturação hidráulica, especialmente em regiões que já enfrentam escassez hídrica.
Para mitigar os riscos associados à fraturação hidráulica, várias alternativas tecnológicas estão a ser desenvolvidas. Estas incluem métodos de fraturação a seco, que utilizam gases em vez de água, e técnicas de monitorização avançada para detectar e prevenir contaminações. A inovação contínua neste campo é crucial para reduzir os impactos ambientais e tornar a extração de gás natural mais sustentável.
Armazenamento Subterrâneo de Gás Natural
O armazenamento subterrâneo de gás natural é um elemento fundamental dos sistemas energéticos modernos. A principal função deste armazenamento é manter um equilíbrio entre a procura e a oferta de gás, suprimindo os picos de procura diários ou sazonais. Em Portugal, as estruturas geológicas adequadas para este fim incluem reservatórios de petróleo/gás extintos, aquíferos e cavernas salinas.
O armazenamento subterrâneo de gás natural pode ter vários impactos ambientais. Entre os principais, destacam-se:
- Risco de contaminação de aquíferos devido a fugas de gás.
- Emissão de gases com efeito de estufa durante o processo de injeção e extração.
- Alteração das características geomecânicas das formações rochosas.
É crucial implementar medidas de monitorização contínua para minimizar estes impactos.
Para garantir a segurança e a eficácia do armazenamento subterrâneo de gás natural, são necessárias várias medidas de segurança e monitorização, tais como:
- Monitorização contínua da pressão e integridade das formações geológicas.
- Implementação de sistemas de detecção de fugas de gás.
- Realização de inspeções regulares e manutenção das infraestruturas.
A implementação rigorosa destas medidas é essencial para assegurar a estabilidade e a segurança duradoura das instalações de armazenamento subterrâneo de gás natural.
Legislação e Avaliação de Impacto Ambiental
A legislação portuguesa, nomeadamente a lei 37/2017, exige que todas as operações de prospecção, pesquisa e extracção de hidrocarbonetos passem por um processo formal de avaliação de impacto ambiental. Este requisito visa assegurar que as atividades de extracção de gás natural sejam realizadas de acordo com o espírito da legislação em vigor, minimizando os impactos negativos no ambiente.
O processo de avaliação de impacto ambiental (AIA) em Portugal envolve várias etapas, incluindo a elaboração de um estudo de impacto ambiental (EIA), a consulta pública e a emissão de uma declaração de impacto ambiental (DIA). Este processo é fundamental para identificar, prever e avaliar os efeitos ambientais de um projeto antes da sua execução.
Associações ambientalistas, como a ZERO, desempenham um papel crucial na monitorização e advocacia para a implementação rigorosa das avaliações de impacto ambiental. Estas organizações frequentemente destacam a necessidade de uma avaliação detalhada e transparente, especialmente em projetos controversos como a extracção de gás natural. A introdução de metas anuais de incorporação de biometano na rede de gás natural pode ser usada como uma medida complementar para reduzir os impactos ambientais.
Conclusão
A extracção de gás natural em Portugal, embora possa trazer benefícios económicos e energéticos, acarreta significativos impactos ambientais que não podem ser ignorados. A emissão de gases de efeito estufa, como metano e dióxido de carbono, contribui para as alterações climáticas, enquanto a alteração do uso do solo e a contaminação de águas subterrâneas e superficiais ameaçam a biodiversidade local. É imperativo que sejam implementadas medidas rigorosas de mitigação e que se promovam estudos exaustivos para avaliar e minimizar estes impactos. A colaboração entre governo, universidades e associações ambientalistas será crucial para garantir que a exploração de gás natural seja conduzida de forma sustentável e responsável, protegendo o meio ambiente e a saúde pública.
Perguntas Frequentes
Quais são os principais gases com efeito de estufa emitidos durante a extracção de gás natural?
Os principais gases com efeito de estufa emitidos durante a extracção de gás natural são o metano (CH4) e o dióxido de carbono (CO2).
Como a extracção de gás natural afecta as águas subterrâneas?
A extracção de gás natural pode levar à contaminação das águas subterrâneas devido a vazamentos de produtos químicos utilizados no processo de fraturação hidráulica.
Quais são os impactos da extracção de gás natural na biodiversidade local?
A extracção de gás natural pode resultar na destruição de habitats naturais, afectando a fauna e a flora local e levando à perda de biodiversidade.
O que é a fraturação hidráulica e quais são os seus riscos?
A fraturação hidráulica é um processo de extracção de gás natural que envolve a injeção de fluidos a alta pressão para fracturar as rochas subterrâneas. Os riscos incluem contaminação de águas, sismos induzidos e emissões de gases com efeito de estufa.
Como é feito o armazenamento subterrâneo de gás natural em Portugal?
Em Portugal, o armazenamento subterrâneo de gás natural é feito principalmente em cavidades salinas, como na região do Carriço. Este método permite armazenar grandes volumes de gás de forma segura.
Quais são as medidas de segurança e monitorização no armazenamento subterrâneo de gás natural?
As medidas de segurança incluem a monitorização contínua da integridade das cavidades de armazenamento, a detecção de vazamentos e a implementação de sistemas de controlo ambiental para minimizar os impactos negativos.
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